ENTREVISTA: Comercialização de frutas no Vale do São Francisco

Ascom Plantebem
jun, 2021
ENTREVISTA: Comercialização de frutas no Vale do São Francisco
Foto: Mateus Guimarães

No ano de 2020, o setor de frutas e hortaliças foi afetado pela pandemia do covid-19, isso aconteceu principalmente, devido à queda da atividade econômica e a mudança no hábito de consumo por parte da população. Segundo a Revista Cultivar, esses fatores impactaram o setor de formas distintas ao longo do ano, com maiores ou menores consequências sob o mesmo. O mercado interno foi o mais acometido durante a pandemia. O isolamento social e a restrição de funcionamento, ou até mesmo o fechamento temporário de alguns segmentos, como atacados, feiras livres, restaurantes, bares e escolas, promoveram um efeito negativo no comércio de frutas e hortaliças.

Já ao que se refere à exportação de frutas frescas brasileiras, o setor apresentou um bom desempenho em 2020, e este fato está relacionado, com base no Cepea, ao aumento do dólar, a menor disponibilidade de frutas em países concorrentes e ao aumento da demanda. A HF Brasil destacou que nos primeiros meses de 2021 o cenário comercial de frutas frescas se repete, a comercialização de uvas no mercado interno continua travada no Vale do São Francisco (PE/BA) e as exportações seguem em alta, superando até os embarques de 2020 para o primeiro quadrimestre.

Os diferentes impactos, sejam positivos e neste caso, alguns negativos, principalmente no mercado interno, geraram algumas dúvidas e anseios em relação aos próximos meses. Diante disso, visando amenizar algumas dessas questões, conversamos com o Diretor da Expofrut Brasil (empresa especializada em Uva), Luciano Cézar Rocha Azevedo, que comentou um pouco sobre o cenário da comercialização de frutas, com foco no Vale do São Francisco.

PTB: Como o cenário de comercialização de frutas se comportou nesses primeiros meses do ano de 2021?

Luciano: Falando um pouco da Expofrut, mas acredito que representa um pouco o setor, o ano de 2021, começou também de forma muito favorável, tanto no mercado interno como no externo, onde atuamos em janeiro e fevereiro na Europa, devido a gaps de colheitas na África e Chile. O mercado interno manteve a média e iniciou o ano com uma boa performance até final de fevereiro, começando a cair a partir de março e acentuando a queda ainda mais em abril, e agora em maio, com muita fruta ofertada e com problema de qualidade, devido às dificuldades do primeiro semestre. Os preços entre abril e maio são os mais baixos dos últimos dois anos no mercado interno e pela primeira vez estamos sentindo uma retração na demanda, após o início da pandemia, o que não foi observado no ano de 2020. Esta quebra de mercado também pode estar relacionada à volta da concentração de frutas nos produtores, visando a janela do segundo semestre que causa um efeito espelho neste período atual.

PTB: Quais as maiores dificuldades que se evidenciaram nesses períodos?

Luciano: Os preços e a demanda do mercado interno; de uma maneira geral, nosso maior problema consiste na contenção dos custos devido aos aumentos extraordinários de insumos, adubos, fertilizantes e defensivos que superam 100% em alguns produtos; e mais recentemente, materiais de embalagem. Só na caixa de papelão, estamos com alta acumulada de 70% nestes quatro primeiros meses. Além disso, o custo de mão-de-obra também subiu bastante devido ao aumento de atestados e afastamento pela covid, ou suspeita dela. E por fim, agora, enfrentamos uma crise grande de fretes marítimos com oferta reduzida e majoração de preços, inclusive com quebra de contratos. Por exemplo, há algumas semanas, fomos impedidos de exportar mais de 200 toneladas por falta de containers, espaço em navio e queima de portos, piorando ainda mais a situação do mercado interno.

PTB: Existe alguma variedade que tenha a melhor ou pior venda nesse período?

Luciano: Tudo depende muito da concentração e da oferta de demanda e procura, além da concorrência mundial. Em condições normais, geralmente as variedades brancas (verdes) são mais aceitas.

PTB: Levando em consideração os números da exportação de frutas no ano de 2020, qual a previsão ou expectativa em relação aos resultados para os próximos meses de 2021?

Luciano: Esperamos crescer em 30% o volume exportado em relação à 2020.

PTB: Em sua perspectiva, quais os próximos caminhos e desafios para a agricultura, principalmente durante o cenário da pandemia do coronavírus?

Luciano: Controle de custos e qualificação da mão-de-obra. As comodities estão muito elevadas e a nossa mão-de-obra não é mais abundante e barata como no passado, precisamos de produtividade para fechar a conta, assim como, precisamos de campanhas que fortaleçam o consumo de frutas in natura, onde a uva, pela facilidade de consumo e a disponibilidade anual, pode se destacar como uma das melhores opções.

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